terça-feira, 20 de abril de 2010

Evocação com o Gayatri Mantra


EVOCAÇÃO COM 

O GAYATRI MANTRA


( 2*edição) 

25/07/2022


 

Oṁ bhūr bhuva svāḥ || tat savitur vareṇyam |
bhargo devasya dhīmahi | dhiyo yo naḥ prachodayāt ||

                                                                            

Tradução simplificada: Meditando nas semelhanças do sol com nossa consciência suprema,

iluminamos os obstáculos que nos distanciam da natureza divina. Dos planos mais densos aos sutis.

 

Tradução secundária:

Que através da interdependente relação entre os planos mais densos e sutis, terra-atmosfera-céu, matéria e espírito, macro e micro cosmos, possamos nos inspirar com os fractais luminosos do sol que tanto contemplamos. 

Nessa inspiração, evocarmos nossa consciência mais luminosa. Afinal, se existe um sol iluminando a Terra existe uma consciência suprema nos iluminando.

Por fim, com essa consciência, que possamos desidentificarmos nossa atenção de tudo que nos desvia da nossa natureza divina, dissolvendo as energias mais condensadas com o poder da constância dessa intenção e a entrega da nossa natureza.

Aprofundamento da tradução mais abaixo.

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Com o poder propagador das redes sociais. a beleza da evocação dos mantras atravessou fronteiras e um dos mantras mais cantados na tradição filosófica indiana do Vedanta, ganhou força na audiência pública das plataformas, principalmente, na voz de cantores como Chandra Lacombe e Deva Premal.

Por ter origem em um contexto institucional filosófico e numa língua utilizada apenas em rituais de conexão religiosa; o sânscrito, é natural que o benefício da massificação venha junto com o desafio da pronúncia, grafia, tradução e descontextualização.

Nesse texto, separei algumas destaques desses desafios.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Sobre a contextualização, o desafio é que esse mantra é utilizado na iniciação dos aspirantes ao estudos dos Vedas, filosofia indiana que demanda décadas ( para não dizer uma vida inteira) de estudo constante e disciplinado para ser absorvida.

Assim, existe uma perda da força ritualística com sua massificação, além do desvio da tradição. Imagina alguém que decide se iniciar na filosofia e já ouviu o mantra com desvios em outros contextos. Ou alguém que faz uma série de disciplinas e preparações e estudos para ouvir e cantar o mantra pela primeira vez e ve alguém cantando errado e de forma dessasciada da intenção correta do mantra.

Só para dar um peso nessa relevância. Os iniciados na tradição, tem a sugestão de cantar de 1 a 3 vezes ao dia o japamala com 108 repetições desse mantra. A iniciação desses estudos é renovada anualmente e no dia seguinte, uam vez ao ano, os iniciados cantam 1008 vezes ao invés de 108.

Assim, é importante destacar, que além do rompimento de barreiras das redes sociais o movimento para minimizar as barreiras entre as castas na própria Índia vem permitindo o uso do mantra desconectado da ritualística dessa iniciação, pela simples beleza, benefícios e força dessa evocação. 

Se pudermos fazer isso pelo meos com uma pouco de consciência, estudo e respeito a tradição que deu origem ao mantra, fica um pouco mais leve essa licença.

E é nessa licença que abro esse campo aqui, principalmente, pela vivência pessoal de 7 anos que tive com Chandra Lacombe entoando essa mantra com devoção contagiante e as audições com a Deva Premal.

PRONÚNCIA e GRAFIA

Como durante uma boa parte da história, 4 milênios A.C, as escrituras eram passadas oralmente, parece que dois pequenos detalhes do mantra se modificaram em relação a sua transmissão original.

- SVAH OU SUVAH OU SVAHA OU SWAHA

Pela pesquisa que realizei, acredito que a palavra original seja realmente Svah, porém, pela proximidade sonora com Swaha, foi ancorada no norte da Índia com esse som.

Perceba que existe uma diferença clara nas pronúncias.

Swaha ( Suarrá) é diferente de Svah (Svaa).

Existe também a pronúncia de Svaha que é muito próximo de Swaha.

Perceba que na grafia da palavra em sânscrito também existem acentuações características. No caso abaixo, um traço em cima do “a” que indica o prolonguamento da pronúncia e um ponto em baixo do “h” que pode indicar uma anulação do som.

svāḥ

 

TRADUÇÃO

O sânscrito é uma língua que inclui muitas nuances da ciência vibracional e as vezes utiliza-se de metáforas e associações próximas para sugerir um direcionamento de atenção na composição dos mantras inspirados em estados de êxtase dos sábios. Porém, suas palavras possuem traduções precisas. Não aceite de primeira quem foge dessa precisão. Essa flexibilização só gera mais criativas e bonitas interpretações que nos distanciam do significado original e do bom senso.

Algumas pessoas abusam das possibilidades de associação de uma palavra e aí acabam tornando abrangente demais as possibilidades de tradução. Isso desmotiva as pessoas a darem a devida atenção nessa busca e alimenta uma liberdade excessiva nas traduções que causam problemas de condução.

Por isso tudo, não é muito fácil encontrar um consenso. Abaixo uma forma de traduzir cada palavra:

Oṁ: som que evoca o estado de receptividade vazio e oco da consciência

 Bhūr:  Campo mais denso, associado normalmente com o plano terrestre

 Bhuva: Campo imaterial, associado com a atmosfera

 Svāḥ: Campo espiritual, ou mais macro, associado com os planos superiores e das galaxias

 Tat:  um fractal de luz do sol, a existência real semente

 Savitur: O divino na forma do Sol

Vareṇyam: Consciência suprema solar

Bargho: bargha é luz, bargho é o oposto

 Devasya: luz brilhante por si mesma

Dhīmahi: Meditemos

Dhiyo yo naḥ: o entendimento atraves da repetiçao para nós

 Prachodayāt: pedido para a natural condução para luz

 

 SUGESTÃO DE PRÁTICA DE CONCENTRAÇÃO

 Considerando essa tradução, gosto de direcionar esse mantra para o foco na terceira estrofe.

bhargo devasya dhīmahi

Repita 3 vezes: bhargo devasya dhīmahi bhargo devasya dhīmahi bhargo devasya dhīmahi

Para se integrar com esse mantra comece sua primeira prática focando nessa estrofe. Ela nos convida para o estado de autopercepção meditativa ( dhimahi) onde podemos mediar nossa ação e escolher direcionar a luz ( devasya) em nosso obstáculos, bloqueios, sombras.

Esse é o objetivo desse e de muitos mantras: nos conduzir para um estado mais luminoso de Ser. No caso do Gayatri Mantra, ele oferece ainda dois potencializadores dessa luz em Devasya:

 1) O poder da constância na repetição da última estrofe ( Dhyo yo nah)

 2) A evocação da consciência solar (Varenyam) pela metáfora do Sol evocada a partir da contemplação dos 3 planos ( Om Bhur Bhuva Svah Tat Savitur Varenyam);

 Ou seja, a estrofe 4 serve para somar na luz de Devasya, lembrando que a cada repetição ( Dhyyo yo nah) você prova para si mesmo a força da sua intenção de expandir a luz.

 E as duas primeiras estrofes também somam em Devasya, a luz da Consciência Solar inspirada no Espírito do Sol ( Savitur) presente nos três planos.

 Aproveite para entoar Prachodayāt de forma entregue. Sua natureza já é divina. Prachodayāt.

 TE AGUARDO

Depois me conta se você conseguiu sentir algo mais potente praticando as informações desse texto? Ofereço ele para a liberação de mais pessoas e me inspira saber que essa meta foi alcançada.

Aproveito para compartilhar uma poesia musicada que produzi inspirado nas minhas primeiras experiências com esse mantra.


https://soundcloud.com/essenciais/poesia-para-o-gayatri-mantra (Poesia para o Gayatri)